The Concussion não é só textos de opinião. Fizemos nesta semana uma entrevista com Lucas Rossetti - daqui para frente referido como Lucas Ro7 - Head Coach do Guarulhos Rhynos. Lucas é Head Coach há alguns meses e é graduando em Educação Fïsica pela Universidade de São Paulo. Nesta entrevista ele fala bastante do Futebol Americano no Brasil - especialmente no Estado de São Paulo. Ro7 toca também nos problemas e vícios que o esporte encontra - bem como barreiras para seu crescimento e profissionalização e o que esperar do futuro do esporte.
TC: Lucas, primeiramente muito obrigado por ceder seu tempo ao The Concussion
Lucas Ro7 : Com grande satisfação participo dessa entrevista , agradeço também desde já.
TC: Lucas, como começou sua vida no futebol americano?
Lucas Ro7: Uns 5 anos atrás… Um amigo meu do colegio jogava. Aí ele ele me chamou para treinar no Parque do Ibirapuera e nunca mais parei.
TC: O FA era muito diferente em São Paulo há 5 anos?
Lucas Ro7: Muito! Não havia coaches, muito menos jogadores que soubessem o que estavam fazendo. Era um grupo de pessoas que se juntavam para jogar sem nenhum intuito competitivo.
TC: Qual foi o fator determinante para o processo de profissionalização que vemos hoje?
Lucas Ro7: A medida que mais jogos passavam na TV mais gente queria jogar. Começaram a se criar campeonatos e logicamente os times mais organizados ganhavam esses campeonatos. A competição entre os times foi o fator determinante para que essa tendência a se profissionalizar fosse levada tão a sério.
TC: Pode se dizer que os times grandes "engoliram" os pequenos?
Lucas Ro7: Sim, com certeza. Os times formados por somente amigos foram engolidos pelos times competitivos.
TC: Quais eram os problemas desses times de amigos?
Lucas Ro7: Na maioria das vezes era o simples fato que eles não queriam competir e se comprometer. Queriam somente queriam brincar de fim de semana. Logo os jogadores que queriam competir recebiam propostas de times maiores - o que causava um abandono em massa nesses times pequenos.
TC: O Flag Football em São Paulo - que foi a origem de tudo - está fadado a acabar?
Lucas Ro7: Ele esta fadado a retroceder ao estado de brincadeira de fim de semana , pois todos os times com alguma estrutura tentam se equipar e jogar FA (tackle), o que, na minha opinião, é um erro. O flag é a melhor escola que um jogador jovem sem experiência pode ter.
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| Lucas analisa o campo em treino do Rhynos |
Lucas Ro7: Exatamente.
TC: Como foi sua trajetória no FA de São Paulo?
Lucas Ro7: Comecei jogando flag por times pequenos que treinavam na região do ibirapuera, pois era perto da minha casa. Após uns 2 anos entrei para o Rhynos, clube que comecei como auxiliar técnico. Hoje sou Coordenador das Categorias de Base (que conta com mais de 50 atletas com menos de 17 anos) e Head Coach do FA adulto que começa a disputar campeonatos no ano de 2012. No Rhynos ja fiz de tudo… Marcador de stats , Assistente de Ataque , Assistente de HC. Cheguei a ser kicker por uma temporada também.
TC: O Rhynos vem para ser uma potência no FA Nacional? Tem projetos para isso?
Lucas Ro7: O objetivo do Rhynos é ser o time diferente. Antes de começarmos o projeto do FA conseguimos um ótimo projeto de categorias de base , trouxemos coaches experientes. Temos 4 coaches para o FA - todos com diploma assinado pela IFFAF. Dois estrangeiros e dois brasileiros. Não sabemos ainda se vamos ou não ser uma potência nacional. Mas o trabalho a longo prazo é ser um dos grandes sim.
TC: Como você vê o FA Nacional hoje? Estaria no nível de High School dos EUA ou já chega no nível técnico de segunda divisão da NCAA?
Lucas Ro7: Nenhum dos dois. O FA se encontra num momento de vai ou racha. Cresceu muito e agora precisa arrumar as bases. Poucos times tem projetos a longo prazo; poucos tem patrocínio ou ajuda financeira. FA nacional esta no mesmo nível que a NFL se encontrava na década de 20 do século passado: muitas lesões e jogadores tendo que pagar tudo do próprio bolso.
TC: Qual é o máximo de crescimento do FA no Brasil?
Lucas Ro7: Não existe um medidor de potencial, é um esporte que tem tudo pra crescer muito ainda. Mas se for pra dar um palpite, acho que um dia ele chega no nível de organização do basquete nacional.
TC: Mas o basquete é interiorizado no Brasil. Existe uma possibilidade do FA ir para o interior?
Lucas Ro7: Acho que o FA já está assim, as cidades que mais apóiam o FA não são os grandes centros - caso clássico o do Vila Velha Tritões. São as prefeitura de cidades médias que estão e vão ajudar os times.
TC: Qual é o maior vício do Futebol Americano no Brasil?
Lucas Ro7: Jogadores e técnicos que confundem o esporte com MMA e fazem do campo um ringue de UFC. Não sabem a diferença de bloqueio e bater. Infelizmente ainda se ouve muito coisas como coaches dizendo "Vai lá e bate no nº X , não deixa ele passar".
TC: Na década de 1920 houve mortes nos Estados Unidos dentre jogadores de FA. Isso pode acontecer aqui também devido a esse vício - ou seria um exagero meu?
Lucas Ro7: Acho que mortes não, pois os equipamentos de segurança são melhores. Mas em quase todos os jogos você consegue ver uma lesão grave -como fraturas expostas ou rompimento de ligamentos. Infelizmente na maioria das vezes causados por falta de técnica.
TC: Como você vê o FA daqui 10 anos?
Lucas Ro7: Depende das decisões tomadas hoje pelos times, por exemplo… Existe uma crescente chegada de americanos para jogar pelos times com mais dinheiro. É uma opção boa a curto prazo - mas não pode se tornar uma constante… Se não a gente para de formar jogadores. O FA tem um público com poder aquisitivo alto. Ou seja: seu publico é bem refinado e poderoso. Temos tudo em nossas mãos pra fazer algo diferente pelo esporte no Brasil.
TC: Falando agora de NFL, que time você torce?
Lucas Ro7: Eu sou um phinatico pelo Miami Dolphins. Não posso dizer que estou feliz com meu time. Mas pra quem teve Dan Marino como QB durante 20 anos é normal não se acostumar com jogadores como Chad Henne.
TC: Analisando como Head Coach, qual o problema do Dolphins?
Lucas Ro7: O próprio Head Coach. Infelizmente ele arranjou problemas com vários jogadores do time, falou demais nas entrevistas. Isso sem contar que o time fez péssimas contratações, como, por exemplo, o Tackle Mike Colombo
TC: Uma última mensagem ou consideração?
Lucas Ro7: Para que as pessoas se envolvam no FA nacional. Poucos torcedores que assistem a NFL apóiam algum time nacional. Ajudem como puderem: torcendo, jogando ou organizando. Os times precisam de qualquer um disposto a ajudar. Se alguem tiver interesse de conhecer as categorias de base do Rhynos ou conhecer o time acessem o site www.rhynos.com.br.
The Concussion é um site e blog de Futebol Americano que
abrange desde a cobertura da temporada da NCAA e da NFL
até curiosidades históricas das mesmas.
