>>Leitor do The Concussion: ao ler o título, alguns podem pensar que Marinovich é um robô que sabe lançar passes, certo? Errado! Nesse texto, “robô” será a referência ao corpo de Todd Marinovich, ex-quarterback da NFL e da CFL.
Todd Marvin Marinovich nasceu em 4 de julho de 1969, em San Leandro, Califórnia. O pai de Todd era Marv Marinovich, antigo quarterback de USC, que treinou o filho desde o nascimento para ser o jogador de futebol perfeito. Com um mês, Todd já fazia exercícios de alongamento para a coxa e com apenas quatro anos, já podia correr quilômetros em meia hora.
Na High School teve uma carreira de muito sucesso. Foi o primeiro calouro a começar um jogo em Orange County. Escolheu jogar pela Mater Dei High School, e em dois anos neste colégio, lançou para 4,400 jardas. Após se transferir para a Capistrano Valley High School, ele quebrou o recorde de passe de todos os tempos de Orange County, passando depois o recorde histórico de jardas da High School, com 9,914 jardas, sendo 2,477 no seu ano de senior. Após uma brilhante carreira, foi para a Universidade de Southern Califórnia, os Trojans. Mas, antes, um fato curioso marcou sua carreira.
Em janeiro de 1988, ele apareceu na capa da revista cover Califórnia Magazine, com o título: "ROBO QB: THE MAKING OF A PERFECT ATHLETE.", algo que muito se devia ao fato de sua rotina desde criança para ter um corpo de jogador. Posteriormente, declarou que nunca havia tido um Big-Mac, um biscoito ou uma Coca-Cola. Quando ia a festas de criança, ele levava seu próprio bolo e sorvete para evitar açúcar e farinha branca refinada. Ele comia ketchup caseiro, preparado com mel, e não comia produtos lácteos transformados.
Em sua carreira no college, ele seguiu os passos de seu pai e escolheu a USC, como já dito. Em seu primeiro ano de NCAA, ele foi backup, assim como provavelmente seria no segundo. Mas na pré-season de 1989, Pat O’Hara, o quarterback titular, sofreu uma lesão grave na perna e não poderia jogar na temporada. Marinovich então foi escolhido para liderar a universidade e se tornou o primeiro calouro a começar a temporada como quarterback titular de USC desde a segunda guerra mundial. Na temporada, Marinovich completou 197 de 321 passes, lançando na regular season para 16 touchdowns e 12 interceptações. Mas um jogo em si foi especial: contra Washington State ele liderou um comeback de último minuto num drive de 91 jardas para vencer a partida. A qualidade do quarterback estava apresentada, mas Todd ainda precisava consolidar seu talento. Naquele ano, os Trojans fecharam com 9-2-1, venceram a conferência Pac-10 e venceram o Rose Bowl de 1989 em cima de Michigan.
Marinovich entrou o ano de 1990 como um candidato ao Heisman Trophy, mas outra característica que marcaria sua carreira começou a aparecer: os problemas pessoais. Após Larry Smith (na época, o HC dos Trojans) saber que Marinovich estava faltando a diversas aulas, ele foi suspenso do jogo contra Arizona State. Mas seu jogo foi tão ridículo que teria sido melhor ele ter sido mantido fora de qualquer maneira. A partir daí, seu relacionamento com Smith tornou-se problemático. Seus problemas com o treinador tornaram-se públicos no John Hancock Bowl, onde foi mostrado Marinovich gritando com Smith.
Um mês depois, Todd Marinovich foi preso por posse de cocaína. Após ser solto, resolveu declarar-se elegível ao draft da NFL.
O draft de 1991 estava mais voltado para a defesa, e o primeiro quarterback foi selecionado na pick #16. A pick #24 era dos Los Angeles Raiders, que resolveram apostar no quarterback robótico e draftar Todd Marinovich, que um tempo atrás teve passagem pela polícia. Mas... É o Raiders, né? Você acha que ele ligaria para o record policial do nosso querido Todd? (Nota: o próximo quarterback a ser draftado seria Brett Favre. Será que valeria a pena trocar?)
Seu primeiro jogo na NFL foi num Monday Night Football, na pré-temporada de 1991 contra o Dallas Cowboys. Entrou restando 15 minutos de jogo, e lançou 4 passes, sendo 3 completos e 16 jardas. Um dos passes foi para touchdown.
Porém, na temporada regular ele não havia atuado, até que o quarterback titular Jay Schroeder se machucou na semana final da temporada, dando chance para Todd mostrar seu valor. E ele não decepcionou: tentou 40 passes e acertou 23, conseguindo 243 jardas difícil vitória dos Chiefs.
Os Raiders haviam conquistado a vaga nos playoffs, e por causa da grande atuação, Marinovich novamente foi o titular. Pela segunda semana seguida, os Chiefs eram os adversários. Mas nesse jogo Todd foi mal, lançando apenas 140 jardas e 4 interceptações, num jogo novamente vencido pelos Chiefs, agora por 10-6. No vestiário, quebrou um espelho com seu capacete após o jogo.
Em 1992, após os Raiders iniciarem a temporada com 0-2 como Schroeder de titular, Marinovich foi declarado o quarterback starter. Teve uma grande atuação no primeiro jogo e uma atuação média no segundo, mas os Raiders perderam as duas. Depois liderou sua equipe a três vitórias em quatro jogos, antes perdendo para os Cowboys. Seu melhor desempenho foi contra os Bills, em que lançou para 188 jardas e 2 touchdowns, completando 11 de 21 passes. Na semana seguinte, em um jogo contra os Eagles, teve 3 de seus primeiros 10 passes interceptados. Schroeder voltou a ser o quarterback titular e Todd Marinovich nunca mais atuou na NFL.
Corpo são, Mente sã?
Enquanto isso seus problemas pessoais continuavam: Marinovich teve sérios abusos de substâncias proibidas enquanto jogava na NFL. A NFL sempre mandava Todd fazer testes de drogas, e muitas vezes ele falhava, seja por cocaína ou maconha. Os Raiders entraram no meio da briga e mandaram Todd para uma clínica de reabilitação, mas de nada adiantou. Após falhar mais uma vez no teste de drogas, novamente por maconha, sua carreira na NFL havia acabado. Também havia sido preso diversas vezes.
Muito tempo depois de se tornar um quarterback fracassado na NFL, Todd Marinovich tentou se juntar ao Winnipeg Blue Bombers, da CFL (Canadian Football League), mas teve uma grave lesão no joelho no primeiro dia de training camp. Durante a recuperação, seus antigos amigos da High School o levaram a heroína. Marinovich então foi preso mais uma vez e passou três meses na cadeia. No verão desse ano, algo estranho aconteceu: ele realizou try outs e despertou interesse de duas franquias da NFL: San Diego Chargers e Chicago Bears, mas nos dois, falhou no teste psíquico. Pouco tempo depois, foi contratado para ser backup do DC Lions, da CFL.
Após mais problemas com drogas, ele ficou na franquia, mas em 2000, a situação não estava boa e Marinovich saiu da mesma.
Marinovich voltou para Los Angeles e entrou na expansão dos Los Angeles Avengers, da Arena Football League (mas será possível que mais general managers loucos de franquias queriam este homem em seu roster?). Mas seu talento finalmente apareceu: ele empatou com o recorde da liga em touchdowns lançados em apenas um jogo, com 10. Foi eleito o rookie do ano pela liga, mas no dia seguinte ao seu pagamento, ele usou heroína. Após saber disso, a equipe o suspendeu do time. E nunca mais ele voltaria a atuar.
Em 2004, Marinovich foi considerado pela ESPN um dos maiores busts da história do esporte da bola oval. Ficou em sétimo na lista. Nada injusto.
Ainda assim, após o final de sua carreira, teve muitos problemas pessoais. São tantos que nem vale a pena listar.
E assim termina o texto que relata a vida de Todd Marinovich. De futuro “perfeito quarterback” a bust arruaceiro com passagem pela polícia. De antigo “corpo perfeito” a um cara que se perdeu nas drogas. Corpo são, mente sã? Nem sempre. Infelizmente uma educação tão rígida e robótica fez com que Todd se tornasse completamente rebelde quando adulto. Triste para ele, triste para o Esporte.
Se você quiser saber mais, procure na internet o documentário "The Marinovich Project", que vai ser transmitido hoje à 0:00 pela ESPN americana.
The Concussion é um site e blog de Futebol Americano que
abrange desde a cobertura da temporada da NCAA e da NFL
até curiosidades históricas das mesmas.
